Em sua primeira homilia após ser eleito líder da Igreja Católica, o papa Leão XIV abordou, nesta sexta-feira (9), a imagem equivocada que muitos ainda têm de Jesus Cristo. A celebração ocorreu na Capela Sistina, no Vaticano, e reuniu os cardeais que participaram do recente conclave.
Durante a missa, o novo pontífice destacou a necessidade de uma vivência mais profunda da fé cristã e criticou percepções reducionistas sobre a figura de Cristo. “Ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”, declarou.
O papa fez alusão ao trecho bíblico do Evangelho de Mateus em que Jesus questiona seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”, usando a passagem como ponto de partida para refletir sobre as diferentes interpretações da figura de Cristo ao longo da história — e também na atualidade.
Para Leão XIV, o desafio atual está em uma sociedade que frequentemente trata a fé com desdém, priorizando outras formas de segurança e sentido. “Este é o mundo que nos está confiado e no qual, como tantas vezes nos ensinou o papa Francisco, somos chamados a testemunhar a alegria da fé em Jesus Salvador”, disse.
Contrastando a opinião das massas com a verdadeira essência da fé, o papa pontuou: “Para elas, o Nazareno não é um ‘charlatão’: é um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas, como outros grandes profetas da história de Israel. Por isso, seguem-no, pelo menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes.” No entanto, ele alertou que esse seguimento superficial é frágil diante das adversidades. “No momento do perigo, durante a Paixão, também o abandonam e vão embora, desiludidas.”
A homilia também trouxe uma análise do contexto contemporâneo, no qual, segundo Leão XIV, a fé cristã enfrenta rejeição e escárnio. “Impressiona a atualidade destas duas atitudes”, disse ele, completando: “Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer.”
O papa ainda ressaltou as dificuldades enfrentadas por quem escolhe viver e proclamar o Evangelho. “São ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena”, afirmou, em tom crítico, mas reflexivo.
A missa durou cerca de 90 minutos e marcou o início simbólico do ministério de Leão 14 à frente da Igreja. Após a cerimônia, o pontífice seguiu para um almoço reservado com os cardeais, último compromisso conjunto antes do retorno de cada um aos seus países.