A proposta do governador Jerônimo Rodrigues (PT) de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar contratos com empresas de lixo no estado provocou forte reação entre os deputados da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). O líder oposicionista Tiago Correia (PSDB) criticou duramente a sugestão feita por Jerônimo durante entrevista nesta quinta-feira (10), quando o chefe do Executivo foi questionado sobre o impasse judicial que envolve a CPI do MST.
“É mais uma declaração infeliz do governador, que desrespeita a autonomia entre os poderes e tenta interferir nos trabalhos do Legislativo. É preciso lembrar que a CPI do MST colheu assinaturas necessárias de deputados tanto da oposição como da base do governo. Então, quando ele reage e faz uma declaração dessa, ele atinge toda a Casa”, afirmou Correia.
A provocação do governador faz referência à Operação Overclean, entre os alvos está o empresário José Marcos de Moura, apelidado de “Rei do Lixo”. Moura é apontado como próximo ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), embora o vice-presidente nacional do partido não seja citado diretamente nas investigações.
Correia classificou como inadequada a tentativa de Jerônimo em induzir sua base a retaliar a criação da CPI do MST com uma investigação sobre o setor de limpeza urbana, lembrando que esses contratos são de responsabilidade municipal. “Caso o governador tenha alguma denúncia a fazer, basta encaminhá-la ao Ministério Público. Caso queira muito participar dos trabalhos na Assembleia, pode se candidatar a deputado estadual nas eleições do ano que vem e, se eleito, poderá propor a investigação que quiser”, concluiu.
A crítica foi reforçada pelo deputado estadual Sandro Régis (União Brasil), que aproveitou o episódio para resgatar um tema antigo da oposição: a compra frustrada de respiradores durante a pandemia da Covid-19. O parlamentar afirmou que a Assembleia deveria priorizar a apuração desse caso, que causou um prejuízo de aproximadamente R$ 50 milhões aos cofres públicos, com a compra de equipamentos que nunca chegaram à Bahia.
“Se é para investigar, que se investigue tudo. Inclusive o que foi feito com os milhões de reais desperdiçados enquanto a Bahia enfrentava o pior momento da crise sanitária. Até hoje o governo do Estado não deu uma explicação convincente sobre o destino do dinheiro público”, disse Régis.
O pedido de criação da CPI dos Respiradores foi protocolado ainda em 2022, quando o deputado era líder da oposição, mas nunca saiu do papel. “A Casa também precisa de coragem e responsabilidade para reabrir essa caixa preta”, reforçou.