A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou, em entrevista exclusiva ao Nordeste Agora, seu compromisso com a diversidade e a alternância de poder dentro da Rede Sustentabilidade. Durante sua passagem por Salvador, onde anunciou o apoio a Giovanni Mockus e Iaraci como candidatos a porta-voz do partido, a ministra destacou a importância de renovar lideranças e seguir os princípios fundadores da sigla.
“Entendo que a Rede deve favorecer a alternância de poder. Houve um momento em que um grupo quis fundir a Rede com o Cidadania e nos colocamos contrários. Giovanni teve um papel fundamental para que isso não ocorresse. Quando criamos a Rede, era para ser um partido diferente, baseado na democracia interna, na diversidade de liderança. Por isso, defendo o que está no nosso estatuto e programa. A sustentabilidade também envolve renovação. Já fui porta-voz e abri mão do segundo mandato para apoiar Heloísa Helena. Agora, apoio Giovanni e Iaraci porque essa é a linguagem natural da Rede e da democracia. A Rede é um partido que se propõe a conviver com a diversidade”, opinou.
Segundo ela, a Rede deve se manter fiel ao seu propósito de diversidade e participação democrática. A fala ocorre em meio à disputa interna entre a ministra e a ex-senadora Heloísa Helena, que se apoia com Paulo Lamac como próximo porta-voz da legenda. A atual liderança da legenda é Wesley Diógenes, nome relacionado ao grupo de Heloísa Helena, mas que é alvo de uma representação por parte de membros da sigla, que a acusam de abuso de poder e manipulação nos diretórios estaduais.
“Divergências fazem parte da democracia. Mas a questão principal é a defesa do programa da Rede. Somos um partido que defende a pluralidade e o combate à desigualdade. O debate interno deve ser transparente, sem artificialidades. Criamos a Rede para oferecer um novo espaço e linguagem política. Nosso lema é luta e paz. Precisamos fazer o bom combate sem usar todos os meios para conquistar maiorias. Os fins e os meios devem ser compatíveis”, acrescentou.
Marina Silva e Heloísa Helena foram aliadas no passado. Entre 1999 e 2003, ambas fizeram parte da bancada do PT no Senado. Contudo, em 2003, Heloísa foi expulsa do partido por se opor à reforma da Previdência proposta pelo governo Lula. Em 2015, Marina fundou a Rede Sustentabilidade, e Heloísa se juntou ao novo partido após deixar o PSOL.
Nos últimos anos, as diferenças entre elas ficaram mais evidentes. Em 2022, Marina apoiou a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Heloísa ficou ao lado de Ciro Gomes (PDT). No ano seguinte, a ex-senadora sugeriu a fusão da Rede com o PT ou PSB, enquanto Marina liderou um abaixo-assinado em defesa da autonomia do partido.
A tensão entre as duas aumentou ainda mais em 2023, quando Heloísa Helena lançou uma chapa contra a ala de Marina para o comando nacional da Rede e venceu a disputa. Agora, Heloísa lançou o nome de Paulo Lamac, enquanto Marina anunciou, em Salvador, os nomes de Giovanni Mockus e Iaraci para a liderança do partido.
“Quando fui candidata junto com José Gustavo, claro que eu apoiava a minha chapa. Depois, quando tivemos a segunda direção, apoiei Heloísa e Pedro Ivo. No congresso passado, apoiei Joênia Wapichana e Giovanni Mockus. Como sempre defendi a ideia de alternância de poder, agora estou apoiando Giovanni e nossa companheira Iaraci”, explicou.
Uma década da Rede:
Em meio ao racha entre as duas alas da legenda, nas últimas eleições o partido conquistou o menor número de prefeituras desde sua criação, em 2015, com apenas quatro cidades conquistadas. A meta era chegar ao menos a dois dígitos. Na entrevista, Marina minimizou a questão quantitativa e destacou a contribuição qualitativa que o grupo já ofereceu nesses dez anos de existência
“A Rede já deu grande contribuição. Somos um partido jovem, surgimos sem fundo partidário e conseguimos eleger deputados, vereadores e senadores. Elegemos a primeira deputada indígena do Brasil, Joênia Wapichana, quase elegemos o cientista Ricardo Galvão. Nossa contribuição é qualitativa, dando espaço para quem não teria oportunidade em partidos tradicionais. Elegemos cinco senadores e ajudamos na campanha de Lula. A Rede sobreviveu com dificuldades, sem fundo partidário, com doações voluntárias. Hoje temos federação com o PSOL, apoiamos Guilherme Boulos em SP, participamos da formulação do programa de governo de Lula. Minha trajetória na Rede me renova e me faz acreditar na atualização da política baseada na democracia.”
Marina ainda afirmou que o partido apresenta princípios e valores claro: “Nós temos como foco com representar as mulheres, jovens, população preta, LGBTQIA+, quem crê e quem não crê. Esse sempre foi o objetivo do partido. E isso a gente atinge todos os dias”, finalizou.